"A alquimia permite criar joias com argila, como faziam
os egípcios.
É aí que o forno torna-se parte do universo onde o tempo é
ignorado.
O fogo ainda é o mesmo e a magia do vidro se processa da
mesma forma.
Com intensidade e energia o ceramista traz das cinzas o
brilho e a poesia das cores, transmitindo seu profundo amor à natureza."
O fogo era fonte de luz e calor. Útil para cozer os
alimentos. Foi quando o homem primitivo descobriu que, ao levar ao fogo certos
materiais eles se transformavam em outras possibilidades. A terra poderia virar
pedra! Daí surgiu a cerâmica.
A cerâmica é muito antiga, sendo que peças de argila cozida
foram encontradas em diversos sítios arqueológicos. No Japão, as peças de
cerâmica mais antigas conhecidas por arqueólogos, foram encontradas na área
ocupada pela cultura Jomon, há cerca de 8.000 anos, talvez mais.
Os egípcios foram os primeiros a ter uma cerâmica vidrada;
as matérias primas de suas terras desérticas davam às suas peças e contas uma
cor turquesa. Com sua pasta egípcia, onde sais solúveis de sódio migravam para
a superfície da peça durante a secagem, obtiveram depois da queima um vidrado
que imitava a pedra que usavam em suas joias. Com suas técnicas viram que, ao
misturar minerais com cobre em suas argilas, obtinham vidrados brilhantes,
azuis e turquesas.
Mais tarde, descobriram que usando os mesmos materiais da
pasta egípcia, poderiam fazer um esmalte para ser aplicado na superfície de
suas cerâmicas resultando num melhor controle de aplicação, cores e efeitos.
Mesmo com esmaltes altamente alcalinos e difíceis de serem aplicados, os
egípcios atingiam os 1050ºC em suas queimas.
Sírios e babilônios aprenderam a usar o chumbo em seus
vidrados e a colori-los com ferro, cobre e manganês. Hoje o chumbo é pouco usado por ser altamente tóxico.
Totalmente por acaso, as cinzas passaram a fazer parte das
peças cerâmicas. Descobriu-se que os restos da madeira que era usada como
combustível nos fornos, voavam e caíam sobre os tijolos e peças durante as
queimas reagiam com a argila e produziam um verniz natural, belo e expressivo,
só com o movimento do fogo. Ao sacar as peças do forno, algum ceramista
descobriu esse efeito ao ver o leve brilho que impermeabilizava suas peças.
O prazer, em trabalhar usando esmaltes com cinzas, é de
poder tentar reproduzir uma técnica antiga com materiais encontrados facilmente
na natureza. Sem forno à lenha, usam-se cinzas no esmalte.
Abraços de luz!
Carmem de Vasconcellos