quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

A Lenda do Dono da Terra



Poronominaré
Dono da Terra
(Baré)


O velho pajé Cauará saiu, para pescar, demorando muito a voltar. A filha, preocupada, resolveu perto das águas mansas do rio.
Após muito andar, sentou-se na relva para descansar. Anoitecia, e a Lua surgiu atrás das montanhas, ficando a jovem a contemplá-la.
Subitamente, destacou-se do astro um vulto muito estranho que vinha em sua direção. A índia parecia hipnotizada, sendo AM seguida tomada por profunda sonolência.
Nesse momento, o pajé, que havia retornado à aldeia, preocupou-se com a ausência da filha. Tomou, então, um pote com paricá, pó alucinógeno que, inalado, lhe despertava os poderes de pajé, entrando assim em transe. Muitas sombras desfiaram à sua frente e entre elas surgiu a silhueta de um homem que subia aos céus em direção à Lua. Aos poucos, as outras imagens foram tomando formas humanas com cabeça de pássaros, anunciando ao pajé que sua filha estava numa linda ilha, não muito distante dali. Imediatamente, Cauará dirigiu-se ao local revelado, Encontrando a moça, enfraquecida e faminta. Voltaram à aldeia.
Passados alguns dias, a jovem, recuperada, contou ao pai um sonho impressionante: no alto da montanha ela dava à luz uma criança muito clara, quase transparente. Não havia leite em seus seios, sendo o seu filhinho alimentado por uma revoada de beija flores e borboletas. À sua volta, outros animais que também se encantaram com o bebê, lambiam-no carinhosamente.
Algum tempo depois, a filha de Cauará notou que, embora virgem, esperava uma criança. O pajé, estranhando o fato, entrou novamente em transe. As alucinações lhe mostraram que o pai de seu neto era o homem que ele vira subir aos céus, em direção à Lua.
Numa madrugada em que os animais, as aves e os insetos pareciam agitados e felizes, nasceu, na serra de Jacamim, o neto do pajé, Poronominaré, o dono da terra. Ao ser informado do feliz acontecimento. Cauará seguiu até a montanha para conhecer o herdeiro. Surpreso, encontrou a criança com uma zarabatana nas mãos, indicando a cada animal, o seu lugar na natureza. Ao cair da tarde, quando tudo já estava em pleno silencia, ouviu-se uma cantiga feliz.
Era a mãe do dono da terra, que subia aos céus levada por pássaros e borboletas.
Fonte: Lendas e Mitos dos índios Brasileiros/ Waldemar de Andrade e Silva. FTD
Abraços de luz!

Carmem de Vasconcellos


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